Quem visita este blog já deve ter reparado que não costumo discutir opções políticas e outras matérias que no fundo são da convicção íntima de cada um.
No entanto, hoje apetece-me comentar a notícia que dá conta que o Sr. presidente do BPN, que está detido enquanto se averigua o que aconteceu no banco por ele presidido, compareceu na Assembleia da República, a pedido desta, para ser ouvido. Logo na altura, quando soube que a AR o queria ouvir achei estranho. Devo ter pensado para comigo "Alguém que ficou entalado". No entanto apenas hoje pensei mais um pouco no caso.
Eu não sou jurista, nem nada que se pareça, mas tenho ideia da existência de uma coisa que, salvo erro meu, tinha o nome pomposo de separação de poderes. Queria isso dizer que os diferentes poderes, legislativo, judicial e (penso que) administrativo, estavam legalmente separados e compartimentados para que um não pudesse interferir no outro. Ou seja, quem faz as leis, não é quem as aplica. Precisamente, penso eu, para evitar situações de proveito próprio, ou algo muito parecido.
Ora, então, alguém me consegue explicar porque é que o Sr. foi chamado à AR?
E, ainda para mais, quando já decorre uma investigação judicial.
Pondo de parte as teorias da conspiração, das quais até sou particularmente adepto, só vejo duas hipóteses, e nenhuma delas me agrada.
A primeira, é a de que o poder legislativo não confia no poder judicial. Eu até sou bastante crítico do sistema judicial português. Não o conheço em pormenor, mas a minha principal crítica refere-se à morosidade com que a maioria dos processos é tratada. Idealmente a justiça deveria ser ágil e dinâmica. Ninguém deveria ter de esperar anos pelo terminus de um processo. Mas, mesmo com os problemas que todos lhe reconhecemos, é ao sistema judicial, que compete exercer o poder judicial. Não é à AR que compete ajuizar da culpabilidade do Sr.
A segunda hipótese, é a de que a AR (na pessoa dos seus deputados) se está a preparar para fazer um aproveitamento político de uma situação, em que ainda não se sabe se o Sr. é culpado ou não. Não me admiraria muito que assim fosse. Infelizmente, a grande maioria dos nossos políticos, não inspira grande confiança aos portugueses, pelo que muito boa gente já está a embarcar nas mais variadas teses, combinando os interesses políticos do Sr. com as diferentes facções e personalidades políticas.
Isto seria cómico se não fosse tão trágico.
AR