José de Sousa, universalmente conhecido, e merecidamente aclamado, como José Saramago morreu.
Não o conheci, senão por alguns dos seus livros que li, e de uma ou outra aparição nas televisões, mas havia algo na sua irreverência que me agradava.
Não li todos os seus livros, mas o primeiro que li marcou-me de tal forma que nunca mais o esqueci. Foi o magnífico Memorial do Convento.
Não me foi fácil lê-lo. Ao princípio estranhei, e muito, a sua forma de escrever com a sua pontuação contrária a tudo o que me tinham ensinado, mas com insistência, e com algum esforço de concentração consegui entrar no ritmo, e depressa o terminei. Passado algum tempo, e mais alguns livros, é que percebi que ler um livro de Saramago, não é uma tarefa de lazer. Não é um autor que se leia na desportiva, como quem lê um jornal de anúncios de ocasião com a atenção partilhada com outra coisa qualquer. Saramago escreve escrevia de uma forma que nos obriga a dar-lhe atenção, a "ouvirmos" o que ele tem para dizer. E aí sim, podemos realmente apreciar a mensagem.
Saramago foi polémico. É o mínimo que se pode dizer dele. Mas, independentemente de concordarmos ou não com as suas ideias, quer as políticas, quer as religiosas, quer quaisquer outras, temos de reconhecer a genialidade do personagem Saramago. Não é qualquer autor que escreve sobre religião, sobre o amor, a morte e a vida como Saramago o fez. Não tinha medo de polémicas e lembro-me de algumas farpas que lançou aos seus críticos como "Eu li a bíblia, e os senhores leram o meu livro?".
Tinha ideias originais, e sabia explorá-las. Quem mais se lembraria de dar sentimentos humanos à morte, e pô-la a apaixonar-se?
Um ponto comum, e isto é obviamente a minha interpretação, é a compaixão pelas fraquezas humanas. Todos somos falíveis, e Saramago incorporou essa faceta nas suas histórias de modo admirável.
Não foi muito bem tratado pelo estado português, e isso deve-lhe ter custado imenso. No fundo é apenas prova da nossa tacanhez, que no dia da sua morte, em que o primeiro ministro decreta, e bem, luto nacional, na assembleia legislativa dos Açores, os partidos lá representados não se conseguiram pôr de acordo para aprovar um voto de pesar pela morte de José Saramago.
AR