Não sei que mais têm em comum os barbeiros e os taxistas, mas há uma coisa que certamente já repararam. Ambos assumem que nós estamos cheios de vontade de conversar. E ambos desatam a falar sobre o tempo, a política, ou a economia, emitindo opiniões para trás e para a frente. Pelo meio, se conseguirmos ir interjeitando um 'pois é' ou um "sim, é verdade" já é bem bom, pois normalmente basta um pequeno movimento de cabeça, para que eles embalem novamente em nova tirada.
Vem isto a propósito de ter ido ontem cortar o cabelo. O barbeiro, um sujeito reformado da marinha, que tem uma cultura geral impressionante, falou de tudo, desde o clima, e das diferenças que encontrou nas suas viagens por este mundo, até à política, sempre tendo o cuidado de não extremar posições porque final, não se sabe qual a cor política do tosquiado, digo do cliente...
Pelo caminho, dei comigo a pensar que os barbeiros eram uma classe única nesse aspecto, mas depois recordei-me dos taxistas, que por estranho que pareça têm o mesmo hábito verborreico. Verdade se diga que os taxistas têm uma maior tendência para falar de desporto, das venturas e desventuras dos principais clubes, e ironicamente, também sem assumirem declaradamente a sua filiação clubística. Vão emitindo opiniões enquanto nos miram pelo espelho retrovisor tentando adivinhar a nossa reacção. Eu, por mim, procuro não os incentivar, mas parece que o meu silêncio é interpretado como concordância, e lá seguem alegremente no seu linguarejar.
Quem se senta na cadeira do barbeiro, quer o cabelo cortado, ou a barba feita, ou eventualmente ambos, e não quer necessariamente levar uma ensaboadela.
Quem apanha um táxi, quer em primeiro lugar, chegar ao seu destino, logo a conversa também é dispensável.
Tenho de arranjar um estratagema para evitar estas conversas.
Alguém tem uma ideia de como o fazer?
Por outro lado, que estas coisas têm sempre dois lados, quem se sentir só e estiver com vontade de conversar um pouco, recomendo-lhe que vá cortar o cabelo. E, já agora, vá de táxi :)
AR